quinta-feira, 1 de julho de 2010

O interesse é manter o monopólio da informação


Os adeptos dos vigilantismo na Rede sofreram um grade golpe na última semana. O ativismo em Rede (ciberativismo) foi parte importante para a construção dessa resposta à tentativa de criminalizar práticas comuns na Rede. O Ato Contra o Ai-5 digital (#megnao ao #ai5digital no Twitter) reuniu cidadãos comuns, ativistas pela liberdade na Internet, deputados federais e estaduais e o Senador Eduardo Suplicy.


No mesmo dia, os partidários do vigilantismo na Internet começaram a tentar minimizar o golpe sofrido. Reportagem tentou descaracterizar o Ato. Essa tentativa de descaracterização pode ser desmentida através de um vídeo da própria Falha.


Matérias veiculadas pela Rede Globo de Televisão, em seu programa Globo Repórter, tentam gerar pânico entre os cidadãos. Tentam justificar o vigilantismo e a criminalização da Internet passando a imagem de que a Rede seria um lugar perigoso, onde estaríamos expostos à crimes, como se esses crimes só ocorressem no chamado “mundo virtual”. Como explica o Professor Sérgio Amadeu, os crimes que tentam vincular à Internet são crimes cometidos em nossa sociedade. Não é criminalizando a Rede que esses crimes serão extintos.


A edição desta semana da Revista Veja vem com o seguinte título na capa: “A Tentação do Clique”. Não li a Revista, pois não costumo me sujar voluntariamente e meus cachorros se recusam a fazer suas necessidades em cima de coisas tão sujas. Mas, pelo que conheço da Revista, a tentativa é a mesma. Assustar os leitores, imputando à Internet uma imagem de lugar perigoso.


Essa série de ataques acontecem de maneira orquestrada. Para tentar explicar os interesses dos oligopólios midiáticos na criminalização e no vigilantismo na Rede – para além das questões econômicas, já que essas são evidentes, significando o acesso em massa à Internet perda de leitores e telespectadores para os grandes conglomerados de comunicação – chamarei a atenção para outro ponto, também muito importante.


O Professor Robério Paulino (in: “Socialismo no Séc. XX; o que deu errado?”) defende a tese de que o Estado ditatorial e o controle da informação foram um dos responsáveis pela decadência e posterior esfacelamento do Império Soviético. O vigilantismo e o controle sobre a informação pelo Estado fez com que os soviéticos entrassem atrasados na chamada Revolução da Informação.


Para um regime que restringia o uso e vigiava até mesmo um mimeógrafo, a simples idéia de um computador pessoal (PC) – que se tornou um dos pilares da revolução da informação no mundo capitalista – soava por si mesma como subversiva, uma ameaça ao monopólio da informação e do poder pela burocracia…Hoje, depois do advento da Internet, pode-se imaginar o efeito demolidor que teria para um regime ditatorial que cerceava e omitia informações a existência de milhões de computadores pessoais espalhados nas residências, escolas, universidades, empresas. Seriam fontes potenciais de movimentos de oposição, de agitação e articulação contra o regime, de multiplicação dos tão temidos samizdats, um pesadelo para os órgãos da repressão como a KGB.” (Paulino. Op Cit. Pp: 195-196)


Ora, por que uso o exemplo da ex-URSS? Em primeiro lugar, porque as oligarquias midiáticas atribuem ao comunismo a falta de liberdades, as ditaduras, chegando a conclamar e apoiar um Golpe de Estado (1964) em nome de evitar o “perigo da ditadura vermelha”. Em segundo lugar as oligarquias midiáticas que temos hoje no Brasil são, ao mesmo tempo, golpistas (produtoras, financiadoras e apoiadoras) e produtos do Golpe Civil-Militar de 64.


O caso da TV é particularmente revelador desta relação. O Jornalista Eugênio Bucci revela que a televisão foi transformada em “espaço público” durante a Ditadura Civil-Militar e o Grupo Globo foi parte importante deste projeto (in: “Brasil em tempo de TV”, 1997). A intenção dos militares era retirar dos espaços públicos “tradicionais” o povo, transferindo o espaço público de discussão e possíveis reivindicações para um espaço “controlado”. Um dos motivos que levam esses grupos conservadores – formados e/ou apoiados pelas oligarquias midiáticas – a ficarem do lado da criminalização das práticas livres na Rede é justamente este: tentar retomar o controle (monopólio) da opinião, mantendo a confusão entre o que é “opinião pública” e o que é “opinião publicada”.


Participei (presencialmente ou via Internet) de pelo menos três atos este ano em que a Rede foi importante para a organização, difusão e transmissão: o Ato contra a “Ditabranda” da Falha, o Saia Gilmar e o Ato Contra o AI-5 Digital. E é justamente essa possibilidade de exercício da cidadania um dos motivos da adesão dos oligopólios midiáticos ao AI-5 Digital. A lógica é a mesma da dos órgãos de repressão do Império Soviético ou da Ditadura Civil-Militar Brasileira. Apesar de usaram a máscara de “democratas” – usando argumentos como o da liberdade quando seus interesses estão em jogo, tentando confundir “liberdade de imprensa” com “liberdade da empresa” -, os oligopólios midiáticos são fruto de uma ditadura. Em última análise, são uma das faces da Ditadura Civil-Militar que continuam vivas depois da redemocratização. A questão é que, para além dos interesses econômicos, a tentativa de criminalização e de aprofundar vigilantismo na Internet é uma tentativa de manutenção do monopólio da informação/opinião e, conseqüentemente, do poder.


Este texto é parte da Megablogagem para o Dia da Internet convocada pelo Blog Mega Não!

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